De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5 (APA, 2014), o autismo é uma condição neurológica que afeta o modo como uma pessoa se comunica e interage com os outros, além da presença de interesses restritos, padrões repetitivos de comportamento e alterações sensoriais.
Para entendermos melhor o que é o autismo é necessário fazer uma retrospectiva histórica iniciando pela origem da palavra autismo, que, do grego, significa “voltado para si”. Leo Kanner, em 1943, pode ser considerado o pioneiro por buscar explicar esta condição humana através de vários relatos de crianças que apresentavam comportamentos muito específicos (Orrú, 2012). No entanto, no ano seguinte, 1944, Hans Asperger, sem conhecer os estudos de Kanner, descreveu crianças com comportamentos peculiares, contudo, com bom funcionamento intelectual.
Um dos mitos criados sobre o autismo e que perdura até hoje, desencadeando sofrimento em muitas famílias, principalmente nas mulheres, é o fato de que na busca por explicar o autismo, Kanner chegou a relatar que o contato distante com baixa intensidade de afeto, advindo da família, principalmente da mãe, poderia estar causando, de uma forma inconsciente, uma forma hostil de relacionamento, dando origem ao mito “mãe geladeira”, desencadeando o autismo (Borges, 2009). No entanto, em 1960, foi publicado um artigo revogando esta ideia, hoje totalmente descartada, mas ainda em muitos momentos, afetando muitas pessoas psicologicamente.
Outro mito foi originado em 1998, a partir da publicação na revista The Lancet, de um artigo que trazia a informação de que a vacina tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba) poderia ser causadora do autismo. Mesmo havendo a retratação da revista e o cancelamento da publicação que foi totalmente contestada por falta de comprovação científica, até os dias de hoje, muitas dúvidas e resistência à imunização ainda ocorrem.
A quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5 (APA, 2014), editado pela American Psychiatric Association, aponta aspectos genéticos como possíveis causas, assim como ambientais, onde “uma gama de fatores de risco inespecíficos, como idade parental avançada, baixo peso ao nascer ou exposição fetal a ácido valpróico, pode contribuir para o risco de transtorno do espectro autista” (p. 56). Também é destacado, neste renomado documento, altas taxas de herdabilidade, chamando nossa atenção para pais e irmãos de crianças autistas que estamos atendendo, pois nem sempre são diagnosticadas, mas podem também apresentar o TEA, necessitando de amparo.
Com relação aos critérios diagnósticos, o DSM-5, caracteriza o TEA como:
[…] prejuízos persistentes na comunicação social recíproca e na interação social (Critério A) e padrões restritivos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades (Critério B). Esses sintomas estão presentes desde o início da infância e limitam e prejudicam o funcionamento diário (Critério C e D). O estágio em que o prejuízo funcional fica evidente irá variar de acordo com características do indivíduo e seu ambiente (APA, 2014, p. 53).
O Transtorno do Espectro Autista faz parte da diversidade humana que está presente em todos os aspectos relativos à sociedade. O acolhimento dos sentimentos faz parte de um importante processo para entender o TEA como condição humana, ajuda na percepção do embasamento científico para a superação de mitos que intensificam o sofrimento e favorece a esperança em dias melhores.
Adriana Barufaldi
Pedagoga, mestre em Educação. Especialista em psicopedagogia, gestão de projetos, neuroaprendizagem e neurociência/psicologia positiva. Experiência na área de Educação, inclusão e diversidade, atuando principalmente nos seguintes temas: formação continuada de docentes e equipes para desenvolvimento e treinamento, aprendizagem de grupos sênior, legislação educacional, ensino híbrido e à distância, educação básica, educação profissional, educação inclusiva, acessibilidade curricular, currículo, diversidade, práticas pedagógicas e desenvolvimento e curadoria de conteúdos e afins
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